Vantagens e desvantagens de monitoramentos sistemáticos e eventuais

Qualificar o monitoramento de fauna atropelada é a única forma de otimizar o recurso investido em prol da redução do maior impacto ambiental direto da presença de infraestrutura viária na biodiversidade. No decorrer das últimas duas décadas tenho realizado pesquisa com fauna atropelada em vários estados brasileiros e auxiliado pesquisadores de outros países em amplificar os resultados obtidos em seus respectivos países.

Um monitoramento bem delineado deve ter começo, meio e fim, deve ter perguntas a serem respondidas e deve ter como um de seus resultados a avaliação do impacto sobre uma ou mais espécies e sua consequente proposição de estratégias de mitigação.

O foco de um monitoramento de fauna atropelada não deve estar em localizar os hotspots (áreas de agregação) de atropelamentos, isso é apenas um dos objetivos, o foco deve estar em avaliar o impacto da perda de indivíduos para a viabilidade da(s) população(ões) afetada(s).

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Monitoramento sistemático x eventual

Monitoramento sistemático x eventual

Quase a totalidade dos monitoramentos realizados por estudos de monitoramento de fauna selvagem focados em licenciamento são sistemáticos e precisam ser.

Monitoramento é chamado de sistemático quando realizado durante um determinado período de tempo e com procedimentos que se repetem a cada dia de campo. Por exemplo, o monitoramento é realizado semanalmente, percorrendo o mesmo percurso de 43 km, a uma velocidade média de 40km/h, tendo um membro da equipe responsável por localizar e registrar as carcaças.

Monitoramentos não sistemáticos ou eventuais não obedecem essa lógica e coletam registros a qualquer momento quando se está trafegando na rodovia. Um exemplo seria o fato de você realizar monitoramentos sistemáticos toda segunda-feira e continuar registrando alguns animais que forem atropelados em outros dias da semana.

Outro exemplo é comum em unidades de conservação onde todos os membros da equipe registram animais atropelados quando os encontram. Veja que nestes casos não se respeita as regras do monitoramento sistemático pois há uma equipe variável, a velocidade pode ser maior ou menor do que a do protocolo e o percurso pode ser de poucos quilômetros entre duas bases da unidade.

Dados oficiais de atropelamento no Brasil

Dados oficiais de atropelamento no Brasil

Não se engane, dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF) do ano de 2017 mostram que 2% de todos os acidentes que ocorreram no Brasil são em decorrência de atropelamento de animais. Parece pouco? São 11.124 acidentes em um único ano.

Estes números não diferenciam animais domésticos ou selvagens, mas mostram que o Lucas, os três passageiros e mais 310 pessoas morreram devido este tipo de acidente. Outras 1027 pessoas sofreram lesões graves e 3604 tiveram lesões leves.

Os dados da PRF são coerentes com o que conhecemos de atropelamento de animais silvestres. As duas rodovias com maior número de acidentes são as BRs 101 (1079 atrop.) e 116 (1053 atrop.). O que seria de se esperar pela extensão, já que cortam o Brasil de norte a sul. Já a terceira rodovia com maior número de ocorrências é a BR 262, no Mato Grosso do Sul.

Só quem já viajou por essa estrada pode entender a carnificina que ocorre ali. E ela é muito visual e perigosa devido existirem muitos animais de grande porte como a anta, tamanduá-bandeira, capivaras, entre outros. Pelos dados da PRF foram 803 atropelamentos.

Se você quer ver dados científicos sobre essa rodovia, clique aqui e faça o download do artigo que sou co-autor e que mostra números alarmantes da mortalidade de animais selvagens.

Ainda sobre os dados da PRF, dos 11.124 atropelamentos, 1012 causaram capotamento de veículo, 64 causaram incêndio e 262 provocaram a queda de ocupantes para fora do veículo.

Vantagens e desvantagens de cada monitoramento

Vantagens e desvantagens de cada monitoramento

Você pode estar se perguntando, quais as diferenças de resultados entre os dois métodos? Total, os dados coletados são completamente distintos, veja algumas variações:

  • Taxa de atropelamento: um dos principais pontos que distingue amostragem sistemática e eventual é a impossibilidade da obtenção da taxa de atropelamento pelo segundo método. Na verdade, mesmo o número de indivíduos encontrados atropelados não é possível de ser comparado entre dias, rodovias, … devido não conhecermos o esforço amostral.
  • Tendenciosidade: é normal que amostragens eventuais sejam tendenciosas porque as pessoas registram mais mamíferos, animais de grande porte ou espécies do seu interesse particular, em detrimento de anfíbios, gambás e pequenas aves.
  • Áreas críticas (hotspots) de atropelamento: existem artigos que mostram o potencial dos dados eventuais para a identificação de áreas críticas de atropelamento. Essa é uma excelente forma de usar os dados eventuais, desde que sejam abundantes e sejam coletados por um tempo considerável. Uma forma de auxiliar no mapeamento de áreas críticas no Brasil é o uso do Sistema Urubu e, mais recentemente, do U-Safe para enviar fotos georeferenciadas de animais atropelados nas rodovias.

Quando usar cada um dos monitoramentos?

Quando usar cada um dos monitoramentos?

Sempre que você desejar informações comparáveis no espaço e/ou no tempo o monitoramento sistemático deverá ser utilizado. Contudo, se você não possui recursos ou uma equipe que pode se comprometer com coletas contínuas, inicie pelo monitoramento eventual com o maior número possível de pessoas auxiliando nas coletas.

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